Na vivência desse Ano Eucarístico devemos, mais uma vez, voltar os nossos olhos para Maria, a Mãe da Igreja, a Mulher Eucarística por excelência, para aprender dela a receber com dignidade o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Pelo relato dos evangelistas que nos transmitem a instituição do sacramento da Eucaristia, na Quinta-Feira Santa, percebemos que Nossa Senhora não estava presente naquele momento. Mas, na Sexta-Feira Santa, no momento da Paixão dolorosa de Cristo, lá estava presente a Mãe das Dores, acompanhando de pé o mesmo sacrifício que seu Filho realiza durante a celebração da Santa Missa. Dias depois, encontramos Maria no Cenáculo, junto com os apóstolos, intercedendo pela vinda do Espírito Santo. Posteriormente, Ela acompanha os primeiros cristãos na vivência de comunidade. Como nos narra São Lucas, “Todos, unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais, Maria, a Mãe de Jesus.” (At 1,14). Desde cedo, os primeiros cristãos souberam contemplar a vida essencialmente eucarística de Nossa Senhora. Conseqüentemente, “eles mostravam-se assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à correção fraterna, à fração do Pão e às orações.” (At 2,42). E ali, junto a eles, estava Maria, expondo aos olhos da fé a sua alma de Eucaristia.
Nessa Igreja nascente que, sobretudo nesses primeiros tempos, se reuniu especialmente em torno da Eucaristia, os fiéis cristãos, ou os santos, como eles próprios se denominavam, desejavam que a autêntica comunidade eucarística se tornasse sinal da unidade de todos os cristãos, unidade essa que transparecia na partilha dos bens e na ajuda mútua. E ali, na concretização desses ideais, a Virgem Maria estava constantemente presente, fortalecendo, com o seu exemplo, a caminhada do povo de Deus em direção à Jerusalém Celeste. Na fração do Pão, na celebração da oração das orações, Maria, com sua coerência, demonstrava aos cristãos da primeira hora a necessidade de se partir da fração do Pão para a missão, da comunhão para a evangelização. E bem cedo esses santos compreenderam que “Maria pode guiar-nos para o Santíssimo Sacramento porque tem uma profunda ligação com ele.” (Ecclesia de Eucharistia, 53).
A fração do Pão nas primeiras comunidades cristãs, como nos ensina Daniel-Rops, “era inicialmente simples e quase familiar, e sem dúvida com pequenas diferenças de comunidade para comunidade. Logo, a cerimônia eucarística vai-se ordenando no decurso dos primeiros séculos, fixa-se em regras gerais e passa a ser acompanhada de palavras e símbolos.” E é sempre bom esclarecer que, habitualmente, os cristãos reuniam-se em pleno dia e, em geral, nas moradias de um converso com mais recursos, que a fé acabava de ganhar para Cristo.
Mas, em pouco tempo, as celebrações eucarísticas terão por marco as catacumbas, por serem realizadas em tempos de perseguição violenta, quando se tornou indispensável esconder-se. E a história da Igreja nos demonstra que, diante da possibilidade do martírio, os fiéis recorreram ao sacramento da Eucaristia para buscar a fortaleza, a coerência e a santidade necessárias para enfrentar as perseguições. E nessas condições, assumindo o martírio até às últimas conseqüências, vivificavam o valor sacrificial da Eucaristia, dando contínuas graças a Deus pela possibilidade de testemunhar a fé cristã e, assim, influenciar na conversão de novos cristãos. Os mártires foram os cristãos da segunda hora e foram essenciais na difusão do Evangelho.
Apenas contemplando a fração do Pão pelos cristãos da primeira geração, notamos que a devoção eucarística tem em Maria o seu modelo insuperável. Desde as primeiras celebrações eucarísticas, Maria amou a Santa Missa, cuidou com esmero dos ritos, incentivou a perseverança dos cristãos e comungou, com as mais perfeitas disposições; afinal, Ela foi o primeiro sacrário da história. Por tudo isso, “com boa razão, a piedade do povo cristão vislumbrou sempre uma ligação profunda entre a devoção à Virgem Santíssima e o culto à Eucaristia... Maria conduz os fiéis à Eucaristia.” (Redemptoris Mater, 44)
Bem antes de receber o sacramento da Eucaristia, Maria já era a grande adoradora eucarística. Como nos ensina, o Santo Padre, o Papa João Paulo II, “Maria praticou a sua fé eucarística ainda antes de ser instituída a Eucaristia, quando ofereceu o seu ventre virginal para a encarnação do Verbo de Deus. A Eucaristia, ao mesmo tempo que evoca a paixão e a ressurreição, coloca-se no prolongamento da encarnação. ”(Ecclesia de Eucharista, 55). Se bem vivida em sua essência, a devoção mariana nos conduzirá a Eucaristia, pois, a verdadeira adoração eucarística tem um singelo sentido mariano.
Humildade, docilidade, generosidade e um profundo silêncio são virtudes e atitudes que definem a pessoa de Nossa Senhora, e são também virtudes e atitudes imprescindíveis em toda adoração eucarística. De joelhos diante do sacrário, saibamos suplicar a Maria, utilizando as palavras de São Josemaría Escrivá: “Mãe! Faz que eu procure o teu Filho; faz que eu encontre o teu Filho; faz que eu ame o teu Filho... com todo o meu ser! Lembra-te, Senhora, lembra-te!” (Forja, 157)
Maria, a Mulher Eucarística, faz parte do mistério eucarístico de Cristo. Para participar da Eucaristia é necessária a fé, e quem melhor vivenciou a fé do que Nossa Senhora? Pela sua fidelidade, a Igreja a louva como modelo de fé. Para participar da Eucaristia é necessário estar em estado de graça, em união com Deus. E quem melhor que a Imaculada Conceição, para vivenciar a graça? Pela sua correspondência, a invocamos com o título de Mãe da divina graça. Participando da Eucaristia, em ação de graças, louvamos as maravilhas do Senhor. E quem melhor que a Virgem digna de louvor para proclamar as maravilhas de Deus? Pela sua humildade, a clamamos com o título de Mãe do Bom Conselho. E finalmente, participando da Eucaristia, antecipamos o céu. E quem melhor que a Rainha assunta aos céus para nos demonstrar como adentrar na Igreja Triunfante? Pela sua autenticidade e transparência, os leigos e os religiosos a reverenciam com o título de Virgem digna de louvor.
Concluindo, podemos reafirmar que “Maria é mulher eucarística na totalidade da sua vida. A Igreja, vendo em Maria o seu modelo, é chamada a imitá-la também na sua relação com este mistério santíssimo.” (Ecclesia de Eucharistia, 53). Em todas as Missas, recorramos a Nossa Senhora, pois assim, como esteve diante da Cruz de Cristo, está também junto às nossas comunidades, na celebração da Eucaristia.
Peçamos ao Senhor, em súplice oração: “Senhor, que a vossa Mãe, a Mulher Eucarística, interceda por nós e nos ajude a imitá-la buscando o alimento da vida eterna”. E que, de um modo especial nesse Ano Eucarístico, “neste ano de graça, a Igreja, sustentada por Maria, encontre novo impulso para a sua missão e reconheça na Eucaristia a fonte e o apogeu de toda a sua vida.” (Mane Nobiscum Domine, 31)
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