Os demais sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa.
“A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é ela mesma, a Eucaristia as significa e as realiza. Nela está o clímax tanto da ação pela qual, em Cristo, Deus santifica o mundo, como do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por ele, ao Pai”.
Finalmente, pela Celebração Eucarística já nos unimos à liturgia do céu e antecipamos a vida eterna, quando Deus será tudo em todos. (1 Cor 15,28).
Em sua palavra, a Eucaristia é o resumo e a suma de nossa fé: “Nossa maneira de pensar concorda com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma nossa maneira de pensar”.
Como se chama este Sacramento?
A riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diversos nomes que lhe são dados. Cada uma destas designações evoca alguns de seus aspectos. Ele é chamado:
Eucaristia, porque é ação de graças a Deus. As palavras “eucharistein” (Lc 22,19;1Cor 11,24) e “eulogein” (MT 26,26; Mc 14,22) lembram as bênçãos judaicas que proclamam – sobretudo durante a refeição – as obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação.
Ceia do Senhor, pois se trata de ceia que o Senhor fez a seus discípulos na véspera da Paixão, e a antecipação da ceia das bodas do Cordeiro na Jerusalém celeste.
Fração do Pão, porque este rito, próprio da refeição judaica, foi utilizado por Jesus quando abençoava e distribuía o pão como presidente da mesa, sobretudo por ocasião da Ultima Ceia. É por este gesto que os discípulos o reconheceram após a ressurreição, e é com está expressão que os primeiros cristãos designarão suas assembléias eucarísticas. Com isso querem dizer que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em comunhão com ele e já não formam senão um só corpo nele.
Assembléia Eucarística (synaxxis, pronuncie “sináxis”) porque a Eucaristia é celebrada na assembléia dos fiéis, expressão visível da Igreja.
Memorial da Paixão e da Ressurreição do Senhor.
Santo Sacrifício, porque atualiza o único sacrifício
de Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou também santo sacrifício da Missa, “sacrifício de louvor” (Hb 13,15), sacrifício espiritual, sacrifício puro e santo, pois realiza e supero todos os sacrifícios da Antiga Aliança.
Santa e divina Liturgia, porque todo a liturgia da Igreja encontra seu centro e sua expressão mais densa na celebração deste sacramento; é no mesmo sentido que se chama também celebração dos Santos Mistérios. Fala-se também
Santíssimo Sacramento, porque é o sacramento dos Sacramentos. Com esta denominação designam-se as espécies eucarísticas guardadas no tabernáculo.
Comunhão, porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos trona participantes de seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo; denomina-se ainda as “coisas santas: ta hagia (pronuncia-se “ta háguia” e significa “coisas santas”); sancta (coisas santas)” – este é o sentido primeiro da “comunhão dos santos” de que fala o Símbolo dos Apóstolos – pão dos anjos, pão do céu, remédio de imortalidade, viático...
Santa Missa, porque a liturgia na qual se realizou o mistério da salvação termina com o envio dos fiéis (“missio”: missão, envio) para que cumpram a vontade de Deus em sua vida cotidiana.
Instituição da Eucaristia
Tendo amado os seus, o Senhor amou-os ate o fim. Sabendo que chegara a hora de partir deste mundo para voltar a seu Pai, no decurso de uma refeição lavou-lhe os pés e deu-lhes o mandamento do amor. Para deixar-lhe uma garantia deste amor, para nunca afastar-se dos seus e para fazê-los participantes de sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memória de sua morte e de sua ressurreição, e ordenou a seus apóstolos que a celebrassem até a sua volta. “constituindo-os então sacerdotes do Novo Testamento”.
“FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM”
O mandamento de Jesus de repetir seus gestos e suas palavras “até que ele volte” não pede somente que se recorde de Jesus e do que ele fez. Visa a celebração litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do memorial de Cristo, de sua vida, de sua Morte, de sua Ressurreição e de sua intercessão junto ao Pai.
Era sobretudo “no primeiro dia da semana”, isto é, no domingo, o dia da Ressurreição de Jesus, que os cristãos se reuniam “para partir o pão” (At 20,7). Desde aqueles tempos até os nossos dias, a celebração da Eucaristia perpetuou-se, de sorte que hoje a encontramos em toda parte na Igreja, com a mesma estrutura fundamental. Ela continua sendo o centro da vida da Igreja.
Assim, de celebração em celebração, anunciando o Mistério Pascal de Jesus “até que ele venha” (1Cor 11,26), o povo de Deus em peregrinação “avança pela porta estreita da cruz” em direção ao banquete celeste, quando todos os eleitos se sentarão à mesa do Reino.
Na véspera da festa da Páscoa, como Jesus sabia que havia chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (cf. Jo 12,1). Caía a noite sobre o mundo, porque os velhos ritos, os antigos sinais da misericórdia infinita de Deus para com a humanidade iam realizar-se plenamente, abrindo caminho a um verdadeiro amanhecer: a nova Páscoa. Eucaristia foi instituída durante a noite, preparando antecipadamente a manhã da Ressurreição.
Comecemos desde já a pedir ao Espírito Santo que nos prepare para podermos entender cada expressão e cada gesto de Jesus Cristo: porque queremos viver vida sobrenatural, porque o Senhor nos manifestou a sua vontade de se dar a cada um de nós em alimento da alma, e porque reconhecemos que só Ele tem palavras de vida eterna.
A fé leva-nos a confessar com Simão Pedro: Nós acreditamos e sabemos que tu és o Cristo, o Filho de Deus. E é essa mesma fé, fundida com a nossa devoção, que nesses momentos transcendentes nos incita a imitar a audácia de João, a aproximar-nos de Jesus e a reclinar a cabeça no peito do Mestre, que amava ardentemente os seus e, como acabamos de ouvir, iria amá-los até o fim.
Tenhamos em mente a experiência tão humana da despedida de duas pessoas que se amam. Desejariam permanecer sempre juntas, mas o dever – seja ele qual for – obriga-as a afastar-se uma da outra. Não podem continuar sem se separarem, como gostariam. Nessas situações, o amor humano, que, por maior que seja, é sempre limitado, recorre a um símbolo: as pessoas que se despedem trocam lembranças entre si, possivelmente uma fotografia, com uma dedicatória tão ardente que é de admirar que o papel não se queime. Mas não conseguem muito mais, pois o poder das criaturas não vai tão longe quanto o seu querer.
Porém, o Senhor pode o que nós não podemos. Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, não nos deixa um símbolo, mas a própria realidade: fica Ele mesmo. Irá para o Pai, mas permanecerá com os homens. Não nos deixará um simples presente que nos lembre a sua memória, uma imagem que se dilua com o tempo, como a fotografia que em breve se esvai, amarelece e perde sentido para os que não tenham sido protagonistas daquele momento amoroso. Sob as espécies do pão e do vinho encontra-se o próprio Cristo, realmente presente com seu Corpo, seu Sangue, sua Alma e sua Divindade.
(Fonte: "É Cristo que passa, 83 - Textos de São Josemaria")
A Celebração Litúrgica da Eucaristia
Desde o século II, temos o testemunho de S. Justino Mártir sobre as grandes linhas do desenrolar da Celebração Eucarística, que permaneceram as mesmas até os nossos dias para todas as grandes famílias litúrgicas. Assim escreve, pelo ano de 155, para explicar ao imperador pagão Antonio Pio o que os cristãos faziam.
Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens, e sob uma forma que, em sua substância, não sofreu alteração através da grande diversidade do tempo e das liturgias, é porque temos consciência de estarmos ligados ao mandato do Senhor, dado na véspera de sua paixão: “Fazei isto em memória de mim” (1Cor 11, 24-25).
Cumprimos esta ordem do Senhor celebrando o memorial de seu sacrifício. Ao fazermos isto, oferecemos ao Pai o que ele mesmo nos deu: os dons de sua criação, o pão e o vinho, que pelo poder do Espírito Santo e pelas palavras de Cristo se tornaram o Corpo e o Sangue de Cristo, o que, assim, se torna real e misteriosamente presente.
Por isso, temos de considerar a Eucaristia:
- como ação de graças e louvor ao Pai;
- como memorial sacrifical de Cristo e de seu corpo.
- como presença de Cristo pelo poder de sua palavra e de seu Espírito.
A presença de Cristo começa no momento da consagração e dura também enquanto subsistirem as espécies eucarísticas. Cristo está presente inteiro em cada uma das espécies e inteiro em cada uma das partes delas, de maneira que a fração do pão não divide o Cristo.
Os frutos da Comunhão
A comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia na comunhão traz como fruto principal a união íntima com Cristo Jesus. Pois o Senhor diz: “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). A vida em Cristo tem seu fundamento no banquete eucarístico: “Assim como o Pai, quem vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta viverá por mim” (Jô 6,57)
Resumindo....
Jesus disse: “Eu sou o pão vivo, descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente(...) Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem vida eterna(...) permanece em mim e eu nele (Jo 6,51.54.56).
A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja.
A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo. Não "memorial" no sentido de lembrança, mas, através dela, nos transportamos realmente ao Calvário no momento da entrega de Cristo.
É Cristo mesmo que, através do sacerdote, oferece o sacrifício eucarístico. É também o mesmo Cristo que está realmente presente sob as espécies do pão e do vinho, que é a oferenda do Sacrifício Eucarístico.
Apenas os sacerdotes devidamente ordenados (padres) podem presidir a Eucaristia e consagrar o pão e o vinho para se tornarem o corpo do Filho de Deus.
O corpo e o sangue de Cristo devem ser recebidos em estado de graça, ou seja, sem que estejamos manchados por pecados. Se alguém se vê em pecado é melhor que não comungue, pois quem toma o corpo e sangue de Jesus em pecado toma a sua própria condenação. Neste caso o fiel deve confessar-se antes de retornar ao banquete Santo.
Através da comunhão do corpo e sangue do Senhor, os pecados veniais (leves) são perdoados e o fiel é preservado dos pecados graves.
A Igreja lembra também que a visita ao Santíssimo Sacramento (Jesus presente no Sacrário numa comunidade perto de você) é uma prova de gratidão e de amor para com Cristo.
Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1322 a 1418)