Logo após a consagração do pão e do vinho, na celebração da Santa Missa, o sacerdote exclama: “Eis o mistério da fé”, pois naquele momento em que pronunciou sobre o pão e o vinho as palavras: “Isto é o meu corpo. Este é o cálice e do meu sangue”, opera-se o mistério da transubstanciação. As aparências continuam, mas a realidade é outra. A Igreja canta com Santo Tomas: “Sob diversas espécies, sinais exteriores apenas, ocultam-se realidades sublimes. O pão é carne, o vinho é sangue, todavia debaixo de cada uma das espécies, está Cristo totalmente”. O Cristo que por nós morreu, mas, ressuscitado na força do Espírito Santo está entre nós e cuja vinda gloriosa aguardamos. É a resposta do Povo de Deus, expressando sua fé confiante no enlevo da sua alma. Realiza-se, na missa, a redenção: “Todas as vezes que isto fizerdes, fazei-o em memória de mim”.
Quando Cristo anunciou este mistério, muitos dos que o seguiam não quiseram acreditar, e dele se afastaram. Então Jesus interroga aos outros, se também não os queriam seguir, reafirmando, portanto, o que dissera. E São Pedro responde por nós: “Senhor só tu tens palavras de vida eterna”.
A Eucaristia é também mistério da caridade e da total união com Deus e com os irmãos. Naquela mesma ocasião em que Jesus multiplicara o pão, Ele ainda acrescentou: “Minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue, verdadeiramente bebida. Quem como minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu nele” Insere-nos no mistério trinitário de Deus, porque Ele vive em união com o Pai no amplexo do Espírito. Neste mesmo amor vivem todos os que comem sua carne.
Santo Agostinho nos diz: “Com estes sinais, Cristo Senhor quis confiar-nos o seu corpo e o seu sangue que derramou por nós para a remissão dos pecados. Se os recebestes bem, vós mesmos sois Aquele que recebestes. Assim, tornamo-nos não apenas cristãos, mas o próprio Cristo.” (Cf. Sacramentum Caritatis, ad nº 36)
Bento XVI, em sua Exortação Apostólica sobre a Eucaristia, assim ensina: “Sacramento da Caridade, a santíssima Eucaristia é a doação que Jesus Cristo faz de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Neste sacramento admirável manifesta-se o amor “maior”: o amor que leva a “dar a vida pelos amigos”(Cf. nº 1- Introdução).
A Eucaristia é o alimento da vida eterna. Santo Tomas no seu hino eucarístico já referido e que se reza antes do Evangelho na liturgia de “Corpus Christi”, ensina: “Verdadeiro pão dos anjos tornou-se alimento dos mortais”. Sua expressão é mais forte, alimento dos caminheiros. Quem caminha sente as fraquezas do cansaço, da fome, da poeira das estradas. Um pouco de pão os reanima e o vinho lhes dá coragem. Somos caminheiros, fracos. Muitas vezes, cansados, temos vontade de desistir, percebendo a distância a percorrer e as dificuldades do caminho. Este pão nos alimenta e renova o ânimo, pois é o pão dos filhos de Deus. Uma antecipação da mesa celeste, pois “”Este é o pão que desceu do céu. Não como os vossos pais que comeram o maná e, não obstante, morreram. O que come deste pão viverá eternamente”.
A Eucaristia deve ser celebrada e vivida em ação de graças por toda a Igreja. A santa missa não deve ser para nós uma simples obrigação. É o maior ato de adoração e louvor da Igreja
e de cada um de nós, pois nos unimos ao sacrifício redentor e por Ele purificados, com Ele nos oferecemos ao Pai, recebendo em nossa vida o Filho de Deus glorioso de cuja vida participamos. Celebramos, pois, a nossa Páscoa.
A festa que vamos celebrar, nesta semana, da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo quer nos lembrar mais. Na nossa fragilidade, precisamos de estímulos que nos avivem o conhecimento e também a fé. Assim, na Semana Santa, recordamos a instituição deste sacramento. A festa do Corpo de Deus, na próxima quinta-feira nos concita à digna celebração e adoração deste mistério. Como um prolongamento da celebração eucarística, que é, em si mesma o maior ato de adoração da Igreja, são os demais atos de culto eucarístico, entre os quais a adoração particular e pública, pois nestes atos podemos aprofundar nossa contemplação e amadurecer a missão de cristãos, na difusão do Evangelho do Amor.
Renovemos nossa vida espiritual com a prática dessas devoções. Não deixemos de visitar o sacrário, de meditar diante dele o grande amor de Deus, de confessar nossa fé na presença real de Cristo naquele pedacinho de pão. Como testemunho público do que afirmamos e cremos, vamos também participar da procissão eucarística e de outros atos que proclamam a grandeza de um Deus que se nos dá na forma de pão e vinho e que neles fica conosco e nos alimenta para a vida eterna. Bendito e louvado seja o Santíssimo Sacramento.
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora (MG)
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